segunda-feira, 19 de abril de 2010

Talca, 19 de Abril de 2010
















O despertador tocou ás três da manhã, não foi o relógio porque não uso, também não foi o telemóvel, mas sim o ruido provocado por um pequeno sismo, fenómeno que já faz parte do dia a dia deste povo. Desde a catástrofe que destruiu uma boa parte do Chile, que se mantêm cerca de três réplicas mensais. A cidade de Talca, encontra-se parcialmente destruida, caminhamos pelas suas ruas e de vez em quando falta uma casa, os passeios estão cheios de montes de entulho, provenientes das remoções de casas reduzidas a pequenos pedaços. As construções mais antigas, em adobe, foram as mais afectadas, as mais recentes resistiram. As pessoas tentam seguir a sua vida, apesar do caos que se verifica, principalmente na parte histórica. O comércio outrora dentro de portas, desenvolve-se agora em cima dos passeios. Muitas pessoas procuram assim continuar a sua vida, que provávelmente tardará ou nunca voltará a ser o que era.

Hoje iniciou-se a colheita da variedade italiana leccino, que neste momento é aquela que se encontra numa maturação mais avançada, embora ainda demasiado verde. Não pude acompanhar a colheita, porque havia problemas no lagar e segui logo de manhã para lá, ao contrário daquilo que estava previsto. Ao encher de água o interior das batedeiras, alguém abriu a válvula errada e durante o tempo suficiente para a pressão se encarregar de "enfolar" as paredes de uma das batedeiras, causando prisão do corpo interior, impedindo-o de girar. Por sorte, havia um português por perto para aldrabar uma solução de improviso e com uns bocados de madeira e um macaco de uma camioneta, lá se conseguiu pôr a máquina ligeiramente parecida como quando a compraram.

Como resultado de tudo isto, a extracção teve de ficar adiada para amanhã (terça feira), porque afinal também havia o motor da bomba mono que estava queimado e alguém se esqueceu de o ir buscar antes da oficina fechar.

Amanhã veremos se as coisas correm melhor, mas com mais ou menos precalços, os arranques de lagar são mesmo assim. Os equipamentos terminam a campanha a funcionar e no entanto, no arranque seguinte existe sempre alguma coisa que não está bem. Nunca tive um arranque de lagar "á primeira" e aqui as coisas também não foram diferentes.

Por estes lados existe azeitona, colheita, lagar, mas falta o culto, a tradição, a ansiedade, a curiosidade de como serão os novos azeites. Para a maior parte das pessoas é mais uma colheita, penso que não a vivem como no nosso país. Eu estou ansioso por provar os azeites, ver os rendimentos, sentir o perfume de azeitonas sãs dentro do lagar. Fruta, como os chilenos lhe chamam (para eles é mais uma), abunda aqui e de grande qualidade, pelo menos até onde os olhos avaliam. A panóplia de variedades é rica, composta por variedades italianas e espanholas: leccino, frantoio, noccelara, barnea, coratina, arbequina, empeltre, manzanilla, picual, fs-17... A maior parte delas nunca as laborei e algumas penso nunca as ter provado. Amanhã começa.