sábado, 29 de maio de 2010

Defender o que é nosso, alguém se lembra?



Ao longo dos últimos anos, o olival tem finalmente sido encarado de uma forma profissional, contráriamente ao que se passou durante largas décadas (ou mesmo séculos) no nosso país. Salvas raras excepções, o olival nunca foi encarado como cultura principal, sendo apenas uma parte da paisagem, que pela sua resistência, mesmo com pouco apoio, acabava por numa altura do ano em que não existiam outras culturas, dar um rendimento extra e alimento ao agricultor. A revolução geral que ocorreu na olivicultura em Portugal, deve-se em grande parte aos investimentos espanhois, que para além das oliveiras, trouxeram uma nova forma de trabalhar, estranha para a maior parte dos olivicultores. Esta vinda, foi positiva no aspecto em que permitiu abrir caminho para uma maior profissionalização do sector. No entanto, como em tudo na vida, torna-se importante para todos nós questionar algumas coisas, que poderão ser importantes para o nosso futuro, como produtores e comercializadores de azeite, no sentido de podermos marcar alguma diferença.

A mentalidade saloia de que todos sofremos um pouco (onde me incluo também), leva-nos demasiadas vezes a sentirmos vergonha daquilo que temos e em jeito de defesa, a aceitarmos de braços abertos aquilo que nos chega de fora. Para além de enchermos o ego (e a carteira) dos povos estrangeiros que nos mudam hábitos, normalmente a médio prazo acabamos mais uma vez, prejudicados e arrependidos. Vem tudo isto a propósito da património varietal que possuímos e da qualidade dos azeites portugueses. A verdade, é que nos últimos anos, têm sido inúmeros os azeites portugueses premiados nas mais importantes competições internacionais. Olhando para os produtores em questão, fácilmente concluimos que pelo menos a maior parte do azeite que elaboraram para os concursos, teve origem a partir de variedades autóctones portuguesas. Mesmo para o maior dos pessimistas, esta é uma grande prova de que Portugal tem um potencial de qualidade e de diferenciação invejável. Podemos sem dúvida produzir tão bem ou até mesmo melhor que outros países produtores.
Esquecendo o olival superintensivo, por problemas de adapatação das variedades a este regime de cultivo, a grande maioria das variedades portuguesas, são tão competitivas em olival intensivo de regadio como as espanholas. Por isso pergunto: porquê plantar arbequina e picual? Estou á vontade para fazer esta pergunta porque eu também as plantei no passado. Mais grave que não plantar o que é nosso, é defender aquilo que vem de fora de uma forma cega, como fazemos diáriamente. A verdade, é que provávelmente dos países produtores existentes, somos o país que menos planta as suas variedades e, não acredito que no estrangeiro, um consumidor alguma vez venha a preferir um mono varietal de arbequina português em vez de um espanhol. Os gregos defendem a Koroneiky, os italianos a frantoio, os espanhois a picual e nós dizemos mal da galega. O azeite português vai muito para além da variedade galega, como sabemos. Apenas o norte do país se mantém típico, contando no entanto com sérios problemas de competitividade do seu olival. Provávelmente terão que pôr grande parte das suas plantações com as raízes ao sol, reconvertendo de seguida o seu olival numa forma mais rentável. Esperemos que tenham o bom senso que nós aqui mais a sul não tivemos, mantendo na hora de plantar o rico património que hoje possuem.

Há dois anos atrás, os azeites da variedade arbequina valiam mais dinheiro que qualquer outra variedade, hoje começa a verificar-se o contrário e no futuro isso deverá acentuar-se ainda mais. A variedade arbequina tem interesse até certo ponto, o seu azeite tem qualidades apreciadas e reconhecidas, mas na minha opinião é um erro, que se plante tanto hoje em dia. Ou seja, não será de estranhar que azeites com mais corpo, de determinadas variedades, venham a ser mais valorizados para lotear o oceano de arbequina que começa a existir. Pode ser que então, muitos de nós nos lembremos da excelente variedade espanhola que algumas mentes brilhantes se lembraram de obrigar os olivicultores deste país a plantar: a blanqueta. Fomos mesmo obrigados, para termos ajudas comunitárias á plantação. Penso que como castigo para o fiasco blanqueta, deveriamos obrigar os autores da vinda desta variedade para Portugal, a terem que temperar o belo bacalhau com esta especialidade espanhola em forma de monovarietal até ao resto das suas vidas.