sábado, 4 de junho de 2011

Todos contra o mediterrâneo




As recentes controvérsias geradas pelos estudos da Universidade de Davis nos estados unidos e pela proposta de alteração da normativa dos azeites na Austrália e Nova Zelândia, alimentam uma guerra cerrada com o COI e os países tradicionalmente produtores. Para os menos atentos, no final do ano passado a Universidade de Davis publicou um estudo em que concluia que a grande maioria dos azeites rotulados como virgem extra e comercializados nos estados unidos com proveniência de países como Itália, Espanha e Grécia não cumpriam com os regulamentos, tendo defeitos de prova e parametros químicos fora do permitido, indiciando nalguns casos adulterações de produto. Por seu lado, Austrália e Nova Zelândia estão a preparar um documento que passa por cima de grande parte da regulamentação definida pelo COI, com a finalidade, dizem, de garantir genuinos e melhores azeites nas prateleiras.
A mensagem que se passa aqui, neste momento, é a de que a Europa envia para cá os seus piores azeites e fica com os melhores para consumo interno. Também se diz que existe fraude em grande parte dos azeites europeus, sendo os mesmos adulterados com azeites refinados e outros óleos mais baratos. Existe a ideia que os azeites australianos são mais frescos e genuinos. Ouvi estas opiniões transmitidas por vários produtores e em lojas especializadas de venda de azeite. Tive a oportunidade de provar alguns azeites europeus, comprados no supermercado e também alguns Australianos. A sinceridade obriga a dizer que provei azeites com ranço, tanto europeus como australianos, situação que deixou surpresos os meus anfitriões.
Quem embala azeite, seja produtor ou não, tem de contar que a partir do momento que a embalagem sai das suas instalações poderá ser sujeita a condições adversas á sua boa conservação, tais como a luz e o calor. Daí a necessidade de que os azeites tenham suficiente robustez para garantir o periodo de validade que se indica. Não quero acreditar que suceda muito que se embalem azeites com ranço, mas acredito que em muitos casos falte a honestidade e a decência de quem embala de se colocar uma validade mais curta, de acordo com o estado oxidativo do azeite. Também, o estado actual de preços do azeite, difícilmente motiva a qualidade, motiva sim o apuramento de novas técnicas industriais que permitem transformar a água em vinho, proporcionando uma falsa competitividade alavancada por uma fraude legal. Continuam-se a fazer lotes de calculadora, levando ao limite os parâmetros químicos de cada azeite, adicionando isto e aquilo até que caiba. Esta é uma situação real, á qual alguns embaladores fecham os olhos por conveniência, motivados pela ganância das cotas de mercado não se importando que por trás do seu famoso rótulo esteja um produto banal, de fraca qualidade mas quimicamente dentro da lei. Estas práticas desvirtuam o mercado e prejudicam gravemente o sector e em particular quem não recorre a estas habilidades. Este negócio tem-me ensinado que existem dois caminhos, que são realmente fazer o esforço da qualidade ou então ter um marketing suficientemente forte que disfarce a falta dela.
As folgas que existem actualmente nalguns parâmetros químicos dos azeites, apenas favorecem alguns  lobbies instalados, que pretendem a manutenção das práticas atrás referidas. Lentamente, o crivo vai apertando, devido sobretudo á pressão dos mercados externos, mas muito falta fazer para que se dificulte as fraudes que continuam a existir e que prejudicam a imagem global do sector em países com importantes consumos como são a Austrália e Estados Unidos.