quinta-feira, 2 de junho de 2011

Kialla, Austrália 2 de Junho de 2011


É uma sensação estranha sentir frio em Junho, sabendo que em Portugal as temperaturas ultrapassam os 30 graus nesta altura. Aqui, as mínimas andam próximas a 3 graus e as máximas cerca de 15, próprias de um outono anormalmente frio, mesmo para esta região. As avarias nos equipamentos de colheita têm sido frequentes, causando inevitáveis atrasos no planeamento efectuado. É um pouco desmotivante porque o tempo tem sido excelente para colher, prácticamente sem chuva. No lagar, a tarefa também não tem sido fácil devido ao facto de a separação das fases estar a ser muito difícil. As azeitonas estão a ser processadas cerca de 30 minutos após a colheita, a muito baixas temperaturas. O sistema de três fases obrigou a uma adaptação da minha parte, porque há 4 anos que não trabalhava desta forma. Na Austrália, são poucos os lagares que extraem no sistema de duas fases, talvez por influencia italiana. Devido ao tempo seco e frio, a humidade no fruto tem diminuido muito, daí a dificuldade de processar as azeitonas sem adicionar água no processo de forma a não prejudicar a qualidade. Atingir este objectivo, de processar nestas condições sem adicionar água tem sido um verdadeiro quebra cabeças, causando inevitáveis estados de irritação da minha pessoa. Mesmo utilizando talco e enzimas, separados ou em conjunto, as dificuldades são bastante acentuadas. A falta de humidade e os baixos tempos de batedura condicionam a utilidade destes co-adjuvantes. Não tenho notado aumentos de rendimento industrial com a sua aplicação, apenas maior facilidade de extração principalmente utilizando as enzimas, notando-se uma diminuição de sólidos finos na saída de água do decanter. Os donos da empresa exigem-me qualidade, sendo o rendimento industrial secundário, situação que para mim é bastante aliciante, tendo para isso total liberdade para conduzir o processo de extracção. No que toca á qualidade dos azeites obtidos, mantém-se excelente, com merecido realce para a variedade coratina, que aqui é o meu azeite de eleição, muito intenso e complexo, compensando pela sua riqueza a marcada alternancia produtiva que revela no campo.
A maior dificuldade surge quando processamos azeitonas pelo descaroçador, sendo muito complicado nas condições que referi fazer uma correcta separação das fases. As percas de azeite no bagaço são consideráveis, mas a qualidade do azeite é excelente, sendo este muito equilibrado e elegante e acima de tudo marca pela sua diferença visto ser obtido num equipamento pouco difundido, existindo portanto alguma exclusividade para quem pode ter azeite obtido desta forma. Em termos de operação, o descaroçador é um equipamento que necessita permanente vigilância e afinação devido ás mudanças frequentes de calibre do fruto, devendo para que funcione bem que a maior parte dos caroços saiam inteiros de dentro do equipamento, situação que nem sempre é fácil. Em jeito de conclusão, o descaroçador será útil como ferramenta de qualidade, embora a sua viabilidade económica dependa sempre do valorização final do azeite obtido.