sexta-feira, 14 de maio de 2010

Continuação de mau tempo?


Os baixos níveis de preços do azeite verificados nos últimos dois anos, afectaram negativamente todas as explorações olivícolas, colocando grande parte delas no vermelho e as restantes com uma rentabilidade muito reduzida e logo pouco atractiva. Torna-se difícil justificar o porquê dos preços praticados a granel, porque o mercado não se consegue analisar de uma forma lógica, ou pelo menos aparentemente. Verificam-se discursos opostos, sobre os motivos da baixa, variando os mesmos conforme se esteja do lado da produção ou da indústria. A verdade é que após uma das maiores colheitas espanholas de sempre, e com uma floração abundante este ano, deveremos, por precaução, esperar que o mercado do azeite continue (pelo menos) mais um ano com preços baixos. O sector primário debate-se neste momento com grandes problemas de rentabilidade, mantendo-se a maior parte das explorações de sequeiro á boleia de um RPU mais ou menos generoso, consoante os casos. Sem as ajudas comunitárias, estas explorações estão condenadas, pelo menos aparentemente. De uma forma aparente, digo, porque existe um ponto que não se olha muito: o peso total das produções de sequeiro, no contexto do total de azeite produzido em todo o mundo. Embora não conheça os valores, penso que não estarei a exagerar se disser que a produção do olival de sequeiro, represente a maior parte do azeite produzido globalmente. Penso que assim será, e tendo em conta as disponibilidades de novas áreas de regadio, que não são infinitas, acredito que embora diminuindo, o olival de sequeiro manterá um peso importante na produção mundial de azeite.

Pelo motivo atrás referido, creio que continuaremos a viver aquilo que sempre aconteceu no mercado do azeite, em anos de seca, os preços subirão, verificando-se o oposto em anos como este. Esta será uma das lógicas especulativas, mas não uma certeza. Por enquanto, o consumo, tem acompanhado a produção e por isso, não existem excedentes. Se houvesse lógica no mercado, não estaríamos praticando os preços baixíssimos de agora, que fazem a maior parte dos olivicultores perder dinheiro, ano após ano. O que me preocupa como produtor, mais que os preços baixos de granel, são os preços de prateleira, que infundadamente e de uma forma autista, banalizam um produto singular, moderno, de qualidade altamente reconhecida. Ao contrário dos vinhos, em que parte dos consumidores estão dispostos a pagar em função da diferenciação e da qualidade, no caso do azeite, tal não se verifica. Por esse motivo, nas prateleiras, a diferença de preço entre a qualidade premium e a standart ou má, é mínima e não premeia nada o esforço de quem trabalha para fazer a diferença. Produzir azeite de alta qualidade, não standart, implica, por muito que se tente dizer o contrário, menos kilos de azeitona no campo e menos kilos de azeite no lagar, essa é a realidade não especulativa, sim efectiva. Agora, se não se criam condições para que o consumidor esteja receptivo a ter o mesmo tipo de comportamento que tem perante o vinho, apenas resta a quem produz, fazer as contas se compensa mais produzir lampante ou virgem extra e aos lagares se devem extrair com higiene e a temperaturas sensatas, ou por motivos de sobrevivência, fazer o oposto.