terça-feira, 27 de abril de 2010

Talca, 27 de Abril de 2010






















Densidades de plantação. A olivicultura que se encontra aqui no Vale de Pencahue, é na sua totalidade, ou pelo menos dentro de aquilo que pude observar até agora, composta por plantações com um número elevado de plantas por hectare. A maior largura de entrelinha que encontrei foi de 6 metros e o espaçamento maior entre árvores na linha de 4 metros. A diversidade de compassos é enorme, como se de um ensaio se tratasse, mas em grande escala. Penso que os olivicultores daqui não se baseiam em experiências realizadas, fazem uma plantação de acordo com aquilo que lhes parece bem, como se se tratasse doutra fruteira, não se preocupando por vezes com pormenores como a iluminação da plantação, arejamento e a parte mais importante, a colheita. A agricultura chilena tem uma tradição enorme em fruteiras e isso acaba por influenciar a olivicultura que se desenvolve aqui. Há uma preocupação enorme com o aspecto exterior da plantação, está tudo sempre muito perfeito e bonito. Agradável para os olhos, sem dúvida, mas inconveniente para a carteira. A verdade é que agora, com mais calma e com um pouco mais de tempo por aqui, verifico que se existirem no futuro problemas relacionados com a mão de obra, sejam eles motivados pela escassez ou pelo preço, muitas explorações serão afectadas na sua rentabilidade. Seja pelos compassos, seja pela pendente, grande parte dos campos não se conseguem mecanizar, pelo menos com as soluções que temos actualmente disponíveis para colheita de azeitona. A dependência da mão de obra é enorme por aqui.

Por outro lado, e um pouco como está acontecendo em Portugal e Espanha, verifica-se aqui que as plantações de maiores densidades, principalmente superintensivos, com mais idade (a partir dos 7 anos de idade), estão em quebra produtiva e ou alternância. O manejo de volume da plantação torna-se difícil, para não dizer quase impossível nalguns casos. Estes problemas acentuam-se nos terrenos mais férteis e profundos, onde se torna muito difícil controlar o desenvolvimento da plantação, dentro dos limites que interessam, tendo em vista um óptimo aproveitamento da radiação solar e consequentemente a máxima produção. Por outro lado, densidades na ordem das 700 árvores por hectare, com a mesma idade, continuam mantendo produções altas, sem os problemas que afectam os superintensivos. Neste momento, para a variedade arbequina, o campo da empresa que explora o lagar, com maiores produções médias, (ultrapassando os superintensivos significativamente), tem 500 árvores por hectare, atingindo nos últimos 4 anos o impressionante valor de 15720Kg de azeitona por hectare e mais de 3000 kg de azeite para a mesma área. Pude também tomar conhecimento que, a partir dos 5 anos de idade, verifica-se por aqui uma diferença de rendimento por kg de azeitona de cerca de 2% menos, relativamente á mesma variedade cultivada em menores densidades. Os problemas de ensombramento das árvores, criado rápidamente pela densidade da plantação originam a menor presença de gordura no fruto.

Neste momento, já se equaciona em muitos casos em eliminar uma linha de árvores e de seguida arrancar metade das restantes, para que se converta o superintensivo num olival intensivo com cerca de 500 árvores por hectare. Não subsistem dúvidas que o olival superintensivo não é para os filhos herdarem e muito menos os netos. Isto foi-me atestado por um espanhol, que tem todos os olivais em superintensivo, de quem já falei aqui, dizendo-me que parte para estas densidades numa perspectiva de dez anos, nos quais espera obter ter produções por cima de 2000 kg de azeite por hectare. Correndo de feição, com os custos de produção locais, dará para recuperar o investimento e ganhar dinheiro. No final, continuando a sua linha de pensamento, renovará o olival, seja através de um corte a 50cm de altura do tronco, aproveitando depois duas rebentações que irá prender á estrutura (aqui todos os olivais têm estrutura), formando um V ou então arrancar e replantar de novo.

Pese embora as precoces e abundantes produções, já se partilha por aqui a ideia que as altas produções associadas a uma longevidade atractiva do olival, estarão por debaixo das 1000 árvores por hectare, ou seja menos de metade da densidade aplicada em superintensivo. A grande vantagem do olival superintensivo, e friso ser importante, é a possibilidade de poder ter um ritmo de colheita elevado, possibilitando colher a azeitona num ponto óptimo de maturação em pouco tempo. O restante, não é atractivo, comparativamente com um olival de densidades menores:

1 - Mais aplicações de fungicidas/insecticidas;

2 - Mais horas de tractor (mais entrelinhas);

3 - Podas anuais e especializadas;

4 - Menor rendimento por kg de azeitona;

5 - Maior necessidade de água;

6 - Menor longevidade da plantação.

Na hora de plantar, cada um poderá equacionar aquilo que pretende, e continuar-se-á seguramente a plantar os dois tipos de olival. Pessoalmente, a minha opção passaria sempre por ter por exemplo 20% de olival superintensivo e o restante de olival intensivo com um mínimo de 6 metros de entrelinha e depois, consoante a variedade, ter entre 3 a 5 metros entre cada árvore. Neste momento, nos nossos olivais intensivos, na Quinta do Pouchão em Alferrarede, estamos a utilizar a prática de poda mecânica cada quatro anos e uma intervenção manual cada 3 anos, situação que nos está a reduzir o segundo custo de maior importância, a seguir á colheita, sem que diminuam as produções. Por outro lado, os custos de colheita com vibrador de troncos, apesar de superiores, não o são de forma muito significativa, relativamente ao custo por kg verificado no superintensivo. Como tratamentos de fungicida anuais, normalmente fazemos três, enquanto que no olival superintensivo que exploramos temos que fazer cinco, se não quisermos ter problemas com doenças como o olho de pavão.