domingo, 8 de abril de 2012

Deserto de Ica, Peru - 4 de Abril de 2012






Finalmente, surge a possibilidade de fazer o arranque do lagar da empresa Oasis Olives. Demasiado tempo para concluir uma instalação deste tipo, motivado pelo ritmo lento de trabalho e pela dificuldade em obter neste país materiais ou serviços básicos. Apesar de não se encontrar tudo definitivamente concluido, estavam reunidas as condições mínimas para se poder arriscar o arranque.
Arrancar com uma linha de extracção de azeite é sempre algo que pode criar surpresas e raramente se consegue que tudo esteja a funcionar a cem por cento. Subsistiam algumas dúvidas da minha parte relativo á lavadora e ao transporte da azeitona até aos moinhos. A solução que se optou ter este ano é transitória devido a ser a primeira colheita com pouca azeitona para processar. Por questões financeiras optou-se por um equipamento usado e já com várias décadas passadas desde a sua criação. Com algum orgulho e vaidade posso dizer que no deserto de Ica existe um lavador de azeitona fabricado nas antigas Fundições do Rossio de Abrantes! Este equipamento foi motivo de algum gozo e chacota da parte de italianos e espanhois presentes no local. Infelizmente para eles, esse estado de graça apenas durou até ao momento em que se começou a colocar o equipamento á prova com azeitonas. Não só cumpriu a sua missão lavando a azeitona como debitou 5400kg por hora, ou seja, superior á capacidade da linha instalada...
Os problemas que existiram no arranque não foram muitos, resumindo-se apenas ao transporte da azeitona para os dois moinhos existentes (discos e martelos). A solução criada não foi a mais feliz e teve de ser retirada e substituida por uma solução improvisada que apenas possibilitou a utilização do moinho de martelos. Verificaram-se apenas alguns problemas de entrada de ar na aspiração da bomba mono devido á falta de aperto de alguns parafusos.

Conseguiu-se obter o tão ansiado azeite do deserto. Foi um momento de grande alegria e satisfação para toda a equipa, libertando toda a pressão e ansiedade que se sentia de uma forma generalizada. Apesar de sempre simbólico para mim, o início da campanha, foi um momento marcante para os peruanos por ser a primeira vez que passavam por esta experiência e alguns deles a primeira vez que cheiravam ou provavam azeite virgem extra. A maior parte deles consideram o azeite um produto caro e por isso inacessível enquanto que aqueles que o conseguem comprar numa prateleira, apenas levam azeite virgem extra no rótulo porque o conteúdo da garrafa é tudo menos isso...

As azeitonas chegam do campo em caixas ventiladadas de 20kg e são colocadas num contentor refrigerado, de forma a baixar a sua temperatura até valores mais adequados á extracção de azeites de qualidade. Os 30 graus que se sentem no exterior durante o dia assim obrigam. O azeite obtido não foi muito interessante, motivado por algumas paragens do processo devido a problemas inerentes ao arranque provocando alguns aumentos de temperatura e tempo excessivo de batedura. No entanto, o primeiro azeite da campanha é sempre bom, porque é novo!