sábado, 12 de maio de 2012

Talca, Chile, 1 de Maio de 2012


Dois anos depois, regresso a este país onde havia iniciado este ciclo de experiências em 2010. Deste local ficaram boas recordações e excelentes amigos com quem o contacto não se perdeu e que os encontros na europa ocorreram por algumas vezes ao longo dos últimos dois anos. Os efeitos do violento terremoto que destruiu em 2010 grande parte do Chile desapareceram quase por completo. As vias de comunicação foram recuperadas e melhoradas, as construções destruidas foram de novo edificadas. Os céus de Talca estão cheios de gruas que ajudam a construir novos prédios, em 2010 existiam apenas dois ou três...

Encontrei algumas mudanças na actividade desta empresa que me surpreenderam muito pela positiva. A estrutura de pessoal que há dois anos era pesadíssima converteu-se num grupo de pessoas substancialmente inferior em número, aumentando por esta via a competitividade necessária de forma a melhor fazer face ao ciclo de baixos preços que estamos experimentando no sector do azeite dede há três anos. A equipa que é responsável industrial mantém caras que já cá estavam em 2010, adquirindo por essa via uma maior experiência profissional de cada um dos membros. Prácticamente não se registaram alterações nos equipamentos existentes, estando os mesmos agora melhor aproveitados fruto dos aumentos produtivos dos olivais existentes.

A área agrícola sofreu grandes mudanças, á semelhança do resto da empresa. Reduziu-se a mão de obra e os olivais são agora explorados de uma forma muito mais competitiva, com nítido atenção aos custos e á eficiência de factores como a rega e a fertilização. De maneira geral, os campos não estão tão bonitos como em 2010 mas seguramente muito mais eficientes na relação entre custos e produção. A componente manual da colheita também se reduziu enveredando-se por uma maior mecanização de todos os campos onde tal é viável. Uma economia em crescimento normalmente anda de braço dado com o sector da construção que recruta muita mão de obra outrora disponível para trabalhos agrícolas, conseguindo pagar salários inviáveis de praticar no campo. Verifica-se algum envelhecimento nos olivais de maior densidade (1200 árvores), que após 5 anos de excelentes produções revelam agora algum cansaço e necessidade de podas mais severas, capazes de os rejuvenescer e devolver de novo abundantes produções.

A qualidade dos azeites, tal como em 2010, continua a ser de um nível muito elevado, sendo esta região inequivocamente uma zona produtiva de azeites de excelência, com potencial para ombrear com aquilo que de melhor se faz por esse mundo fora. Este ano, para além da qualidade, está a oferecer rendimentos industriais em inicio de campanha muito altos, com a variedade frantoio a sobressair com mais de 22% de azeite.


Foi uma visita muito curta, com bastante trabalho a desenvolver em apenas dois dias, mas valeu bem a pena para voltar a este pais fazendo-me recordar muito da experiencia fantástica que vivi aqui há 2 anos atrás.

sábado, 5 de maio de 2012

Rocha, Uruguay 28 de Abril de 2012




 

Ultimo dia de trabalho neste projecto. Decorreram duas semanas de muitas horas diárias de trabalho e de horários trocados. A laboração iniciava-se a meio da tarde e geralmente terminava de madrugada. A primeira semana ficou marcada por temperaturas altas, com máximas superiores a 25 graus, que aportaram alguma dificuldade em conseguir obter temperaturas adequadas ao longo do processo de extracção, essenciais á obtenção de azeites de qualidade. No inicio desta semana, as temperaturas cairam dez graus em apenas um dia, entrando-se num clima frio, com máximas de 15 graus e mínimas de cerca de 5. Esta mudança climatérica teve como consequência um aumento de qualidade nos azeites obtidos e também uma paragem na evolução da gafa, que é a principal doença no olival uruguaio.

As condições de trabalho não eram as ideais, tal como já pude referir, devido ao facto de se estar a trabalhar no meio de um estaleiro de construção. Embora tenha existido o cuidado de se criarem condições necessárias ao desenvolvimento do processo de extracção de azeite, existiam sempre algumas dificuldades motivadas pela construção do lagar. Refiro que esta unidade será sem dúvida imponente e grandiosa, a nível mundial. Contará com cerca de 5000 m2 de construção, com muitos detalhes, como por exemplo um cinema para mostrar vídeos da empresa a visitantes. Será também dotada da mais recente tecnologia a todos os níveis, desde a recepção de azeitona até ao embalamento.

A nível agrícola, este projecto é 100% de sequeiro, em terrenos com alguma pendente. Embora a pluviometria média neste local seja de 1200 mm anuais, durante os meses de verão podem surgir largos periodos sem chuva, que reduzem o potencial produtivo do cultivo. Os solos, apesar de serem fortes, são pouco profundos, tendo apenas cerca de 50 cm de terra arável que se encontra sobre uma camada rochosa. Este é outro factor que condiciona também a produção destes olivais. Existem práticas agrícolas que são obrigatórias no Uruguay, entre as quais a instalação de um coberto vegetal permanente, que lógicamente compete com a oliveira, reduzindo  a disponibilidade de água e nutrientes. Refiro que não respeitar este tipo de normas de defesa dos solos, pode valer neste país um máximo de 17 anos de prisão. Este tipo de legislação revela um claro interesse em colocar valores ambientais á frente de questões económicas.

Relativamente aos azeites, estes são de perfil suave a médio, tendo alguma qualidade em princípio de campanha, sendo uma incógnita a sua evolução ao longo da campanha devido ao problema da gafa. Sobressaem pela positiva os azeites das variedades coratina e picual. Mais uma vez, a variedade barnea tem um comportamento desastroso devido a problemas com doenças. Esta variedade apenas tem viabilidade em climas com baixa ou nula pluviometria e humidades relativas muito baixas.


Será interessante continuar seguindo este projecto, que é um dos maiores da América do Sul pois o mesmo proprietário explora mais duas propriedades no Uruguay, contabilizando cerca de 4000 hectares de olival com destino a azeite. 

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Rocha, Uruguay, 16 de Abril de 2012


O Uruguay é um país diferente de todos aqueles onde estive na América do Sul. Não se vislumbram os problemas sociais que existem em países como Chile, Peru e Brasil. As construções são ordenadas, mantidas em bom estado. Boas estradas e um parque automóvel que fazem lembrar um qualquer país europeu. A população é de cerca de três milhões de habitantes, practicamente não existe desemprego. O custo de vida é surpreendentemente alto, muito mais elevado que Portugal ou Espanha. Os habitantes são descendentes de europeus, justificando-se assim tantas semelhanças naquilo que vemos no que toca ás construções e aos hábitos.

O projecto Nuevo Manatial que estou a apoiar é o maior do Uruguay (provávelmente o maior da américa do Sul), com mais de quatro mil hectares de olival. Toda a área é de sequeiro, não existe qualquer tipo de irrigação nos olivais devido aos cerca de mil e duzentos milímetros de chuva anuais. As variedades existentes são na sua maioria comuns áquilo que se vê nos novos países produtores: arbequina, barnea, coratina, picual, farga e leccino. O compasso mais utilizado é 8x4, estando a aumentar-se a densidade nas novas áreas a plantar. A colheita é efectuada por duas colossus, complementadas com colheita manual nas zonas não mecanizáveis. A olivicultura aqui não é simples porque a humidade e as temperaturas amenas provocam algumas dificuldades ao nível da manutenção da sanidade da árvore e dos frutos. Refiro também que nesta propriedade encontram-se instaladas 19 torres eólicas que abastecem a propriedade e fornecem energia eléctrica á rede pública.

O lagar encontra-se em plena construção, devendo a mesma estar concluida dentro de um ano. Trata-se de uma obra imponente, de grande qualidade de construção, que contará com 6 linhas de 120 toneladas e uma capacidade de armazenamento de 4000 toneladas de azeite. Neste momento trabalham mais de 100 pessoas na construção. Procurou-se criar as condições mínimas para se poder laborar as cerca de 2000 toneladas de azeitona que se estimam ter este ano. Como se pode imaginar, as condições não são de perto as ideais, pois construir e laborar não são situações muito compatíveis. Alguns erros ou lacunas que vou detectando, são rápidamente corrigidos, normalmente no dia seguinte já está resolvido, fruto da organização e da impressionante capacidade financeira desta empresa.

Inicia-se a laboração cerca das 16 horas e termina-se por volta das 2 da manhã, de segunda a sexta. Como é prevísivel, a experiência das pessoas é quase nula, alguns nem sequer conheciam ou haviam alguma vez provado azeite. Os rendimentos são de uma maneira geral mais baixos que na europa e os azeites de perfil médio suave. Á semelhança de outros países onde já trabalhei, a preocupação de fazer bem é constante e o objectivo final é ter muita qualidade. Estes produtores procuram-se evidenciar desta forma nos mercados oferecendo ao consumidor azeites diferenciados pela positiva fazendo tudo o que é necessário para o conseguir.

domingo, 8 de abril de 2012

Deserto de Ica, Peru - 4 de Abril de 2012






Finalmente, surge a possibilidade de fazer o arranque do lagar da empresa Oasis Olives. Demasiado tempo para concluir uma instalação deste tipo, motivado pelo ritmo lento de trabalho e pela dificuldade em obter neste país materiais ou serviços básicos. Apesar de não se encontrar tudo definitivamente concluido, estavam reunidas as condições mínimas para se poder arriscar o arranque.
Arrancar com uma linha de extracção de azeite é sempre algo que pode criar surpresas e raramente se consegue que tudo esteja a funcionar a cem por cento. Subsistiam algumas dúvidas da minha parte relativo á lavadora e ao transporte da azeitona até aos moinhos. A solução que se optou ter este ano é transitória devido a ser a primeira colheita com pouca azeitona para processar. Por questões financeiras optou-se por um equipamento usado e já com várias décadas passadas desde a sua criação. Com algum orgulho e vaidade posso dizer que no deserto de Ica existe um lavador de azeitona fabricado nas antigas Fundições do Rossio de Abrantes! Este equipamento foi motivo de algum gozo e chacota da parte de italianos e espanhois presentes no local. Infelizmente para eles, esse estado de graça apenas durou até ao momento em que se começou a colocar o equipamento á prova com azeitonas. Não só cumpriu a sua missão lavando a azeitona como debitou 5400kg por hora, ou seja, superior á capacidade da linha instalada...
Os problemas que existiram no arranque não foram muitos, resumindo-se apenas ao transporte da azeitona para os dois moinhos existentes (discos e martelos). A solução criada não foi a mais feliz e teve de ser retirada e substituida por uma solução improvisada que apenas possibilitou a utilização do moinho de martelos. Verificaram-se apenas alguns problemas de entrada de ar na aspiração da bomba mono devido á falta de aperto de alguns parafusos.

Conseguiu-se obter o tão ansiado azeite do deserto. Foi um momento de grande alegria e satisfação para toda a equipa, libertando toda a pressão e ansiedade que se sentia de uma forma generalizada. Apesar de sempre simbólico para mim, o início da campanha, foi um momento marcante para os peruanos por ser a primeira vez que passavam por esta experiência e alguns deles a primeira vez que cheiravam ou provavam azeite virgem extra. A maior parte deles consideram o azeite um produto caro e por isso inacessível enquanto que aqueles que o conseguem comprar numa prateleira, apenas levam azeite virgem extra no rótulo porque o conteúdo da garrafa é tudo menos isso...

As azeitonas chegam do campo em caixas ventiladadas de 20kg e são colocadas num contentor refrigerado, de forma a baixar a sua temperatura até valores mais adequados á extracção de azeites de qualidade. Os 30 graus que se sentem no exterior durante o dia assim obrigam. O azeite obtido não foi muito interessante, motivado por algumas paragens do processo devido a problemas inerentes ao arranque provocando alguns aumentos de temperatura e tempo excessivo de batedura. No entanto, o primeiro azeite da campanha é sempre bom, porque é novo!

quinta-feira, 29 de março de 2012

Deserto de Ica, Peru - 29 de Março de 2012






Nos últimos dias visitei dois produtores de azeitona, um deles proprietário de um imponente lagar com uma arrojada arquitectura. Esta empresa será a "nossa" concorrência directa visto encontrar-se a vinte minutos de distância da Oasis Olives. Existem poucos lagares no Peru e todos com a característica comum de possuirem capacidades de trituração de azeitona muito reduzidas. Este lagar que visitei, propriedade da empresa Oliperu, era até há pouco tempo a unidade com maior capacidade de todo o Peru, apesar de ser de apenas 2000kg de azeitona por hora. Por agora, a maior capacidade será a que está a ser instalada pela Oasis Olives. Refiro que a maior parte da produção peruana de azeitona tem como destino a conserva e não azeite.

Passando um pouco ao lado dos detalhes da construção do lagar que visitei, que realmente são impressionantes, apesar de carecerem de sentido para uma unidade agro alimentar, considero que está muito bem equipada, relativamente a equipamentos de extracção. A higiene é perfeita, os equipamentos são de tecnologia recente e sobretudo capazes de permitir a obtenção de azeites de alta qualidade. Tal como noutros países novos produtores que tive a oportunidade de visitar, as boas prácticas estão sempre presentes. O maior cuidado verifica-se ao nível das temperaturas e da maturação da azeitona, embora neste último caso, realizem inspecções meramente académicas e desprovidas de grande interesse prático, tais como verificar o indice de maturação de cada entrega de azeitona. Estamos a falar de ter uma pessoa mais de meia hora a agrupar azeitonas por côr, fazer contagens, cortes, médias... Pura perca de tempo, pois nem sempre se encontrará uma co-relação de ano para ano. O lagar está climatizado na sala de depósitos e também de extracção, mantendo a temperatura ambiente a vinte graus.
Tive a oportunidade de provar alguns azeites novos, momento pelo qual já ansiava há alguns dias. Refiro que por enquanto, o azeite que temos comido, é comprado na prateleira, sendo de origem europeia. Na realidade, no supermercado não há grande variedade na oferta, apenas lideres de mercado. Normalmente, ao nível sensorial, o virgem extra é virgem e o virgem é nitídamente lampante. Entristece-me a péssima qualidade destes azeites, nitidamente defeituosos que deixam a clara noção que quando sairam da origem já não estariam em boas condições. Resta-me apenas a satisfação de nenhum deles ser português. No lagar, pude provar algumas variedades: arbequina, picual e barnea. A primeira era extremamente plana, sem qualquer interesse, a barnea muito amarga e com um frutado algo desagradável. A picual foi uma surpresa comparativamente com os outros azeites, estando a um nível muito bom, complexo, frutado verde médio, muito agradável. O rendimento industrial oscila entre 13% e 17%. No final claro, renovámos o stock de azeite com as ofertas da concorrência, levando azeite novo para casa... Foi muito agradável sentir os aromas de azeitona verde e fresca no lagar, espero agora nos próximos dias podermos iniciar a laboração, visto o lagar da Oasis Olives estar quase pronto.

Visitei o segundo produtor em Samaca, que se localiza no sul de Ica. Para lá chegar temos de percorrer 70 km no deserto, agora sem areia, com outro tipo de paisagem mais rochosa. A viagem implica muitos saltos, atravessando o deserto, por vezes em terreno muito acidentado. As cores da paisagem são várias, claras, escuras, avermelhadas, aqui e ali salpicadas pelo verde junto ao rio. Muito imponente e bonita. É uma pequena exploração, com 20 hectares de olival, sendo o mais curioso o facto de estar junto a antigas ruinas da civilização pré Inca, a Nazca. Encontram-se artefactos espalhados por toda a propriedade, que pertence a um filósofo peruano. O olival é explorado pelo filho, que vive esta actividade com enorme paixão. Acaba por ter os mesmos problemas que todos os produtores desta região, que passam acima de tudo por falta de floração na maior parte das variedades e por consequência, baixas produções. Tal como já referi, atribui-se as causas á falta de horas de frio, situação que inibirá a indução floral.

Neste momento, em função daquilo que vi e ouvi, não me restam muitas dúvidas de que algumas variedades não têm qualquer viabilidade económica que sustente o seu cultivo nesta zona do Peru. Existem duas variedades com boas produções em todos os campos que visitei, que são a koroneiky e a arbequina, principalmente a primeira, revelando produções constantes e abundantes, muito á semelhança daquilo que estamos habituados a ver nesta variedade em Portugal. A arbequina, com as reservas da avaliação "a olho", parece produzir um pouco menos que na europa. A picual, apresenta alguma produção, mas bastante inferior ao que estamos habituados. As restantes variedades (barnea, leccino, frantoio) , são para esquecer porque são absolutamente improdutivas. Árvores com volume para produzir acima de 40 kg de azeitona, produzem meia dúzia de azeitonas cada uma. 

domingo, 25 de março de 2012

Deserto de Ica, Peru - 26 de Março de 2012




A instalação de olivais em climas diferentes do mediterrânico pode implicar benefícios em algumas interacções do meio com a oliveira e claro, também riscos. Neste local, tal como referi, o solo é muito pobre, sendo composto practicamente apenas por areia. O conteudo de matéria orgânica é quase nulo, a ausência de vegetação assim o provoca. Uma das prácticas utilizadas para aumentar os teores de matéria orgânica é semear alguns pés de milho entre as oliveiras, deixando os restos vegetais no solo. O sistema radicular do milho, acaba por se decompor com o tempo, aumentando os teores de matéria orgânica. Embora possa parecer um factor de competição com a oliveira, na realidade nos blocos onde se aplica esta práctica, as árvores são nitidamente maiores, quando comparadas com blocos onde não se intercalou o milho. Devido á quase inexistência de nutrientes no solo, torna-se necessário que o homem proporcione á oliveira as condições para que esta consiga sobreviver e produzir, aportando através da fertirrigação quase toda a nutrição. Por outro lado, na maior parte dos solos a salinidade é elevada, obrigando a um manejo específico do sistema de rega, bem como dos fertilizantes utilizados, de forma a conseguir manter os sais diluidos e longe da zona ocupada pelas raízes, evitando dessa forma a toxicidade causada pelos mesmos. Por exemplo se chover, há a necessidade de não parar a rega pois a chuva faz mover os sais da extremidade dos bolbos de rega para a zona ocupada pelas raizes. Este erro de suspender a rega durante um episódio de chuva ocorrido o ano passado, causou a morte de várias oliveiras por excesso de absorção de sódio.

O clima é muito idêntico ao longo do ano, pode-se dizer que existem apenas duas estações e que acabam por não ser muito diferentes, tanto no caso da precipitação como no regime de temperaturas. Nos últimos cinco anos apenas choveu uma vez, motivo pelo qual se rega o ano inteiro, com dotações próximas aos oito mil metros cúbicos por hectare. As temperaturas médias anuais atingem apróximadamente 27 graus no caso das máximas e cerca de 16 graus para as mínimas. Como extremos, temos alguns dias de verão ligeiramente acima de 35 graus e pequenos periodos no inverno onde o termómetro atinge os cinco graus. No entanto, saliento que as máximas no inverno andam muito próximas aos 20 graus.

A pouca acumulação de horas de frio provocam que em determinados anos a floração seja muito pouco abundante. Este problema é mais frequente em anos que o el nino exerce maior pressão sobre esta região, aumentando as temperaturas médias. Tenta-se neste momento colocar em prática estratégias que causem algum stress á oliveira, nomeadamente hídrico, com o objectivo que possam de alguma forma induzir a floração, dado que o clima por si só nem sempre o consegue. No entanto, ainda não existem dados concretos que possam assegurar que estas interacções tenham resultados práticos, são apenas tentativas de encontrar soluções que viabilizem o cultivo e a sua produtividade. O regime de temperaturas, por outro lado, potencia o crescimento e desenvolvimento rápido da plantação. É fácil encontrar oliveiras com dois anos e meio de plantação, que atingem os 4 metros de altura(!), proporcionados por doze meses de actividade da planta, que contrastam com os cerca de 7 meses de que se dispõe em climas semelhantes ao mediterrânico. É frequente encontrarmos crescimentos vegetativos com um ano que ultrapassam um metro de comprimento. As temperaturas e as horas de sol, possibilitam que se atinjam grandes volumes na plantação num muito curto espaço de tempo, e não sendo para isso necessário recorrer a grandes densidades de plantas por hectare. É possível com um compasso de 6x4 (416 árvores por hectare), ultrapassar os 10000 m3 de volume da plantação em apenas 3 anos. Embora ainda não se possa verificar aqui devido á idade das árvores, após atingido o volume óptimo e dependendo das variedades, será muito difícil manter o mesmo, devido ao crescimento continuo ao longo do ano. Será inevitável nalguma variedades realizar podas severas, ou mais que uma poda anual. Não me surpreenderá que nalgumas variedades se tenha de proceder ao arranque de algumas oliveiras de forma a reduzir a densidade existente, visando usufruir de um manejo mais fácil e económico, nomeadamente no que respeita á poda.

O clima seco, com tardes ventosas, beneficia a sanidade das árvores. Não existem ataques de fungos e até este momento ao nível de pragas apenas existe uma pequena incidência de cochinilhas. No entanto, mais a sul verificam-se ataques de mosca branca, que se iniciaram na Argentina, passaram para o Chile e atingem agora o sul do Peru. No entanto, esta exploração, pelas suas condições edafo climáticas beneficia de uma sanidade natural, quase não sendo necessária a aplicação de insecticidas e sendo absolutamente dispensável o uso de fungicidas.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Deserto de Ica, Peru - 21 de Março de 2012





Após 13 horas de avião, aterrei em Lima. Chegar de noite não permite ter uma ideia do local onde estamos, apenas notei o enorme calor que se fazia sentir. O taxista mandou-me colocar a mala do computador na bagageira, porque estando á vista no carro poderia ser motivo suficiente para um assalto na via pública. A insegurança é muito grande, levando-me a pensar que apesar do crescimento deste sentimento nos ultimos tempos em Portugal, ainda temos um longo caminho a percorrer até atingirmos situações como a que se vive no Peru. O trânsito, é caótico e as regras não existem, cada um define as suas. Os sinais vermelhos ou de stop parecem querer dizer avance e ultrapassa-se pela direita ou esquerda aproveitando os espaços existentes. Ganha respeito quem buzina ou grita mais alto, é de loucos.

Pela manhã, dentro do autocarro que me levou até Paracas, verifiquei que Lima é uma cidade feia e suja, cheia de favelas, onde vive a maior parte dos seus mais de dez milhões de habitantes. A paisagem é árida e acidentada, a construção desordenada e marcada pelas consequências de sismos ocorridos no passado. Cheguei ao destino após três horas e meia, numa paragem de autocarro meio improvisada, onde me esperavam para me levar ao destino final.

Entrar pelo deserto dentro mudou absolutamente o cenário, passando de uma terra castanha e seca para areia branca e fina como a que temos na nossa costa sul. Após visualizar a exploração da empresa Oasis Olives, apercebi-me que é sem dúvida a paisagem mais impressionante que alguma vez vi no que diz respeito ao cultivo de olival. Quinhentos hectares de olival instalados sobre areia, envolvidos por enormes dunas é sem dúvida algo de singular. A paisagem enche por completo a visão e espanta por toda a sua singularidade e envolvência. Não consigo deixar de salientar a coragem necessária para avançar neste local com um projecto desta dimensão. As pessoas que o ergueram já não me são estranhas, são os australianos onde estive o ano passado.

As oliveiras estão instaladas literalmente em areia. Sendo deserto, nos ultimos cinco anos choveu apenas uma vez, o que obriga a regar o olival o ano inteiro. A pobreza do solo obriga também a que toda a nutrição da árvore seja transportada pela água do sistema de rega. As temperaturas são muito semelhantes durante os doze meses do ano, favorecendo um crescimento contínuo, não existindo o repouso invernal. Estas condições, interferem com o comportamento oliveira, nomeadamente ao nível da frutificação. Existem variedades que não se adaptam a estas condições e não frutificam. Encontram-se oliveiras com dois anos e meio, com o porte que se obtém no mediterrâneo no dobro do tempo. Apesar do crescimento aceleradíssimo, apresentam uma fraca colheita.

O lagar ainda está na fase final de montagem e instalação dos equipamentos, prevendo-se mais cerca de uma semana até que se possa fazer o arranque. Atrasos normais neste tipo de instalações, agravados pelo facto de existirem grandes dificuldades para obter bens ou serviços que nós temos ao virar da esquina. Os trabalhadores encostam-se sempre que podem, chegando a dormir no local de trabalho. Lidar com este tipo de situações é fácil para um australiano, proprietários de uma calma absolutamente irreal. Para mim é deveras penalizador e faz aquecer mais do que os trinta graus que se sentem.