sexta-feira, 30 de abril de 2010

Talca, 29 e 30 de Abril de 2010

















Dificuldades de adaptação. Estes dois dias, foram muito complicados, porque na verdade estou habituado a um determinado ritmo de trabalho que aqui não encontro. Tudo se passa de uma forma demasiado lenta no lagar. As pessoas que aqui trabalham, de uma maneira geral ainda não se aperceberam daquilo que é trabalhar nesta indústria. Perde-se imenso tempo com coisas que não são importantes e esquece-se aquilo que é essencial. Nesta unidade, que tem uma capacidade de 300 toneladas por dia, sobra sempre azeitona para o dia seguinte. O que me irrita, é que se está a receber cerca de 60 toneladas por dia. Todos os motivos são válidos para que não se comece a processar azeitona e nestes últimos dois dias foi demais, iniciando-se sempre o processo por volta das cinco da tarde. Na noite de 28 para 29, estiveram os dois turnos a trabalhar juntos até ás 4 da manhã. Resultado, hoje de manhã não havia ninguém para trabalhar com os equipamentos. A verdade, é que apesar de nada disto ser meu, não consigo que estas situações me passem ao lado. Fico profundamente irritado, porque estou habituado a ver dinâmica no lagar, que exista movimento, acção. Sou muito exigente comigo e também com os outros e por esse motivo, há alturas que não consigo evitar que me salte a tampa. Já dizem que o português tem "malas pulgas", que por aqui é a defenição de alguém que se irrita e que tem mau génio. Hoje prometi a mim mesmo que iria fazer um esforço para aceitar que aqui se trabalha de outra forma e que as pessoas agem de uma maneira diferente da nossa. Pode ser que consiga, embora as esperanças não sejam muitas.

Relativamente ao processo propriamente dito, está a decorrer com normalidade. As duas linhas estão agora mais optimizadas, com um bom esgotamento da gordura e continua-se a produzir azeites de boa qualidade. Existe apenas um produtor que não está a obter azeite virgem extra, porque os seus campos sofreram com a geada, notando-se de forma clara o sabor a madeira húmida na prova. Algumas azeitonas chegam algo desidratadas, pois alguns produtores suspenderam a rega, apesar de já não chover aqui desde Janeiro. Estes frutos, causam problemas nos moinhos, aumentando o esforço para triturar. Na extração, obrigam a uma correcção de humidade, de forma a que se não alterem os níveis de saída do azeite no decanter, situação que nem sempre é fácil. O espanhol que veio fazer o arranque da linha de 200 toneladas, tem muita experiência de processo e passo muito tempo com ele, conversando de uma forma que está a ser muito proveitosa para mim. Estou a adquirir conhecimentos que não tinha e está-me a dar acesso a estudos e ensaios que me interessam e que me serão bastante úteis na actividade. Apesar de estarmos aqui pelos mesmos motivos, não existe nenhum choque entre os dois, nem busca de protagonismo. Debatemos ideias, experiências de uma forma muito salutar, num espírito de entreajuda. Um dos pontos de maior importância para mim, tem sido algumas pessoas que conheci por aqui. Gente muito interessante, com as quais tenho falado e aprendido muito. Conheci os pioneiros da olivicultura neste local, as suas experiências, derrotas e vitórias. Quase todos os dias falo com um espanhol que reuniu sócios do seu país e chilenos, para investirem em olival. É um engenheiro agrónomo, com mais tempo de olival do que eu tenho de vida, muito conhecedor e experiente. Privou com grandes mestres espanhois, Diego Barranco, Miguel Pastor, Pepe Alba... Vejo-o como uma enciclopédia de olival, daquelas pessoas que quando falamos, nos apercebemos verdadeiramente do quanto nos falta aprender. A experiência prática é muito importante, ensina aquilo que nem sempre se consegue escrever nos livros e este homem, para além da formação académica, possui uma vida inteira passada dentro de olivais.