domingo, 22 de maio de 2011

Kialla, Austrália 20 e 21 de Maio de 2011

A olivicultura nesta parte da Austrália mostra viabilidade. O clima e a topologia do terreno possibilitam uma adaptação fácil da oliveira. Os solos são muito ricos, existe água para rega, apesar de condicionada devido a um ciclo de seca de 12 anos que foi interrompido no último verão por fortes precipitações que inundaram grande parte deste país e em particular desta região. Existe uma quase total ausência de pragas, á excepção de grandes bandos de pássaros que são autênticos devoradores de azeitona. Estas aves no entanto acabam por afectar mais as pequenas explorações, sendo depreciável o seu impacto em áreas maiores, de acordo com o que me transmitiram. A gafa afecta principalmente a variedade barnea, tal como em Portugal provoca podridão no fruto e queda severa de folhas, comprometendo a qualidade do azeite obtido e a produção do ano seguinte. As restantes variedades que já aqui referi, de uma maneira geral apresentam bom estado sanitário e resistem até á presente data a este fungo.
Tal como no Chile, falta também a este país novo produtor a mística e o ritual próprio dos países que cultivam o olival há vários séculos. Apesar disso, procuram ter prácticas correctas no campo e no lagar e estão impolutos, livres de maus hábitos. Fui surpreendido um dia destes, ao chegar ao lagar vi um jipe com um atrelado carregado de sacos de serrapilheira cheios de azeitona e com umas bilhas em cima. Pensei que não estava a ver bem, mas tive de acreditar. Era um casal de gregos que já andavam há mais de 100km á procura de um lagar e ninguém lhes queria transformar a azeitona. Na Austrália existe uma grande comunidade de gregos e italianos, dos quais alguns exploram pequenos olivais para autoconsumo e alguma venda de azeite. Acabámos por fazer o serviço e foi ver aquela gente radiante a carregar as bilhas com o seu azeite novo. Podiam ter comprado a mesma quantidade por metade da despesa numa prateleira qualquer de um supermercado, mas não seria igual. Perderiam um dia com enorme significado pessoal. São estas tradições e rituais que os australianos e outros novos produtores não têm e que carregam uma enorme simbologia e identidade cultural.
A Austrália é um país seguro, as portas de casa deixam-se abertas e as chaves na ignição do carro. Estes comportamentos arrepiam quem vem de locais onde mesmo com trancas á porta os amigos do alheio acabam por entrar. Existe hospitalidade e simpatia, foi o primeiro país onde estive que ninguém diz impropérios, mesmo quando alguém se magoa. Os organismos públicos fomentam o desenvolvimento em vez de o oprimir, cada sector agro alimentar é hierarquizado em função do risco que representa para o consumidor. Não se exige o mesmo a um lagar de azeite do que a um matadouro. Em dois meses constroi-se e licencia-se uma unidade deste tipo, seis a oito vezes menos tempo do que em Portugal e por a décima parte do dinheiro dispendido no que toca a licenças. As exigências a que as empresas são submetidas é incomparável com aquilo a que somos sujeitos, usufruindo eles desta forma ganhos competitivos insuperáveis. Para além da rentabilidade, as empresas têm capacidade para remunerar bem os funcionários, obtendo em troca motivação e produtividade. O ambiente empresarial é oposto ao clima de medo que o empresário português vive de uma forma constante, pressionado por uma burocracia estonteante e por um clima de medo instaurado por polícias alimentares que regem a sua actividade segundo critérios absurdos e opressores, esgrimindo coimas elevadíssimas baseadas em fundamentalismos de segurança alimentar descabidos de todo e qualquer bom senso. Conhecer este tipo de realidades apenas aumenta o sentimento de injustiça e de ingratidão que quem desenvolve uma actividade empresarial no nosso país bem conhece. Impressionante como um país como o nosso, que caminha para o terceiro mundo ou pelo menos possui uma classe política com esse nível de tiques, implementa exigências que países altamente desenvolvidos como este apenas apelidam de ridículas e inúteis, por não terem melhores palavras para as descrever.