quinta-feira, 22 de abril de 2010

Talca, 21 e 22 de Abril de 2010
















Os equipamentos estão finalmente a adquirir bons hábitos e nesta altura, já se consegue laborar sem grandes problemas. O problema maior que segue são as pessoas, o factor humano aporta sempre dificuldades acrescidas. Uma nova actividade obriga sempre a periodos de adaptação e a percursos mais ou menos lentos na busca de conhecimento e de desenvolvimento profissional. Assim acontece por aqui, no lagar onde trabalho. Por enquanto, a olivicultura e os lagares chilenos não necessitam de ser muito competitivos: produções abundantes, custos de mão de obra e de cultura reduzidos, um continente muito deficitário em azeite, possibilitam que o preço final de venda compense os investimentos feitos de uma forma generosa. Aqui ganha-se dinheiro no olival, ao contrário do que se tem passado nos últimos anos na europa, onde no geral marcámos passo ou andámos para trás.

Devido aos custos de mão de obra, exagera-se no número de trabalhadores no lagar, situação que causa problemas de organização e de eficiência no trabalho. Este ano, ocorreu uma reestruturação no lagar, que teve como efeito a entrada de pessoas novas, sem qualquer tipo de experiência nesta área. Estas alterações, proporcionaram o fim das minhas "férias" aqui no Chile, porque me pediram precisamente, para ajudar a reestruturar e organizar as equipas de trabalho, a optimizar os recursos humanos afectos ao processo de extracção, a eliminar tempos mortos... É um desafio muito aliciante, que seguramente me ajudará a tornar-me um pouco inconveniente para algumas pessoas, no entanto, decidi aceitar colaborar nesse sentido. Representa para mim uma oportunidade de deixar uma marca pessoal aqui depois de partir, caso venha a ser positivo o meu trabalho nesse sentido. Esperemos que sim, tenho todo o apoio do gestor da empresa e do "jefe de planta" e nestes últimos dois dias ocupámos grande parte do tempo a trabalhar nesta área. Estamos definindo o número e as pessoas que irão trabalhar em cada turno, respectivas tarefas e responsabilidades, proporcionando-lhes formação adequada. Outro ponto fundamental é a organização administrativa do processo de extracção, que neste momento não passa de folhas a4 onde se escrevem apontamentos, que depois circulam de gabinete em gabinete, gerando inexactidões e muita confusão. Não existem formulários, apenas notas. A empresa que em Portugal nos fornece a solução informática para o lagar, já está a traduzir a aplicação para espanhol e no sábado deverá estar instalada, permitindo lidar com a informação gerada pelo processo de extracção em tempo real. A partir do meio da próxima semana, a colheita vai atingir valores altos e, nessa altura teremos que ter a máquina montada, o que vai implicar muito empenho e... poucas horas de sono.
Ontem, quinta feira, já se extraiu azeite desde as 8 da manhã até ás 21 horas, sem interrupções nem problemas relacionados com o equipamento. As variedades que se estão a colher neste momento são: leccino, frantoio e arbequina. A qualidade tem-me surpreendido, azeites de topo, intensamente frutados. Temos que olhar para este país como um potencial (ou será que já é?)produtor de qualidade premium e não apenas de qualidade standart. Por estes lados, no que diz respeito ás influências na forma de trabalhar, pertencem aos italianos no manejo agrícola e aos espanhois no lagar. No momento em que suceda o contrário, o Chile será, na minha modesta opinião, um dos países, com maior potencial para produzir azeite de alta qualidade no mundo oleícola. Ou seja, continuando a minha linha de pensamento, os erros nos olivais encontram-se nos compassos, que dificultam a colheita com vibrador de troncos e na condução da oliveira em cone, que tem alguns acérrimos defensores em Itália, que inicialmente andaram por aqui aconselhando os pioneiros destas plantações, no Vale de Pencahue. Os lagares padecem da concepção e desenho espanhola, que visa como primeiro objectivo o rendimento final em azeite e de seguida a qualidade. Ontem á noite conheci no lagar um espanhol de Sevilha, sócio de um grupo que tem 1200 hectares de olival aqui no Chile, com quem tive o prazer de uma troca de opiniões e de comparações entre a qualidade dos azeites produzidos aqui comparativamente com outros locais e prefiro que a coincidente opinião de ambos fique entre nós. Para bem dos países produtores tradicionais, esperemos que os chilenos mantenham as influências trocadas...