domingo, 25 de março de 2012

Deserto de Ica, Peru - 26 de Março de 2012




A instalação de olivais em climas diferentes do mediterrânico pode implicar benefícios em algumas interacções do meio com a oliveira e claro, também riscos. Neste local, tal como referi, o solo é muito pobre, sendo composto practicamente apenas por areia. O conteudo de matéria orgânica é quase nulo, a ausência de vegetação assim o provoca. Uma das prácticas utilizadas para aumentar os teores de matéria orgânica é semear alguns pés de milho entre as oliveiras, deixando os restos vegetais no solo. O sistema radicular do milho, acaba por se decompor com o tempo, aumentando os teores de matéria orgânica. Embora possa parecer um factor de competição com a oliveira, na realidade nos blocos onde se aplica esta práctica, as árvores são nitidamente maiores, quando comparadas com blocos onde não se intercalou o milho. Devido á quase inexistência de nutrientes no solo, torna-se necessário que o homem proporcione á oliveira as condições para que esta consiga sobreviver e produzir, aportando através da fertirrigação quase toda a nutrição. Por outro lado, na maior parte dos solos a salinidade é elevada, obrigando a um manejo específico do sistema de rega, bem como dos fertilizantes utilizados, de forma a conseguir manter os sais diluidos e longe da zona ocupada pelas raízes, evitando dessa forma a toxicidade causada pelos mesmos. Por exemplo se chover, há a necessidade de não parar a rega pois a chuva faz mover os sais da extremidade dos bolbos de rega para a zona ocupada pelas raizes. Este erro de suspender a rega durante um episódio de chuva ocorrido o ano passado, causou a morte de várias oliveiras por excesso de absorção de sódio.

O clima é muito idêntico ao longo do ano, pode-se dizer que existem apenas duas estações e que acabam por não ser muito diferentes, tanto no caso da precipitação como no regime de temperaturas. Nos últimos cinco anos apenas choveu uma vez, motivo pelo qual se rega o ano inteiro, com dotações próximas aos oito mil metros cúbicos por hectare. As temperaturas médias anuais atingem apróximadamente 27 graus no caso das máximas e cerca de 16 graus para as mínimas. Como extremos, temos alguns dias de verão ligeiramente acima de 35 graus e pequenos periodos no inverno onde o termómetro atinge os cinco graus. No entanto, saliento que as máximas no inverno andam muito próximas aos 20 graus.

A pouca acumulação de horas de frio provocam que em determinados anos a floração seja muito pouco abundante. Este problema é mais frequente em anos que o el nino exerce maior pressão sobre esta região, aumentando as temperaturas médias. Tenta-se neste momento colocar em prática estratégias que causem algum stress á oliveira, nomeadamente hídrico, com o objectivo que possam de alguma forma induzir a floração, dado que o clima por si só nem sempre o consegue. No entanto, ainda não existem dados concretos que possam assegurar que estas interacções tenham resultados práticos, são apenas tentativas de encontrar soluções que viabilizem o cultivo e a sua produtividade. O regime de temperaturas, por outro lado, potencia o crescimento e desenvolvimento rápido da plantação. É fácil encontrar oliveiras com dois anos e meio de plantação, que atingem os 4 metros de altura(!), proporcionados por doze meses de actividade da planta, que contrastam com os cerca de 7 meses de que se dispõe em climas semelhantes ao mediterrânico. É frequente encontrarmos crescimentos vegetativos com um ano que ultrapassam um metro de comprimento. As temperaturas e as horas de sol, possibilitam que se atinjam grandes volumes na plantação num muito curto espaço de tempo, e não sendo para isso necessário recorrer a grandes densidades de plantas por hectare. É possível com um compasso de 6x4 (416 árvores por hectare), ultrapassar os 10000 m3 de volume da plantação em apenas 3 anos. Embora ainda não se possa verificar aqui devido á idade das árvores, após atingido o volume óptimo e dependendo das variedades, será muito difícil manter o mesmo, devido ao crescimento continuo ao longo do ano. Será inevitável nalguma variedades realizar podas severas, ou mais que uma poda anual. Não me surpreenderá que nalgumas variedades se tenha de proceder ao arranque de algumas oliveiras de forma a reduzir a densidade existente, visando usufruir de um manejo mais fácil e económico, nomeadamente no que respeita á poda.

O clima seco, com tardes ventosas, beneficia a sanidade das árvores. Não existem ataques de fungos e até este momento ao nível de pragas apenas existe uma pequena incidência de cochinilhas. No entanto, mais a sul verificam-se ataques de mosca branca, que se iniciaram na Argentina, passaram para o Chile e atingem agora o sul do Peru. No entanto, esta exploração, pelas suas condições edafo climáticas beneficia de uma sanidade natural, quase não sendo necessária a aplicação de insecticidas e sendo absolutamente dispensável o uso de fungicidas.

3 comentários:

  1. Hola Alberto, He estado leyendo el Blog y me surgen dudas con respecto a la selección varietal que se ha realizado en esa zona. Nos podrías contar algo al respecto, si se han decidido por variedades resistentes a salinidad o por lo general van a variedades con alto rendimiento. Un punto importante a destacar sera poder analizar el cuajado de los frutos, los rendimientos obtenidos y los costes de Poda (jornada) que obviamente, serán mucho mas elevados por causa del continuo crecimiento.

    Por otro lado, los volúmenes de riego son elevados y justificados por la latitud y zona árida que se encuentran, de donde proviene las agua de riego? pozos? y si realizan tratamientos específicos al agua de riego para mejorar sus características?

    Es una experiencia alucinante, y cada situación es única...te deseo mucha suerte y que todo corra muy bien,

    Un abrazo,

    Rodrigo Sotomayor

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  2. Olá Rodrigo,

    Espero que tudo esteja bem contigo, Ana e vosso filho. As variedades foram escolhidas pelo agrónomo israelita que iniciou o projecto. Foram escolhidas sem pensar nas condicionantes deste meio, como se fossem para plantar no mediterrâneo. A maior parte que plantou foi a Barnea, que é para mim das piores variedades que existem no mundo, com nada de interessante. Neste momento andam a enxertá-las com outras variedades. Existem variedades que se adaptam melhores que outras, como é o caso da koroneiky, que produz abundantemente e muito cedo. Todas as outras são muito irregulares. Picual, arbequina, manzanilla, sevillana, kalamata...

    Os custos de poda ainda não existem porque como as oliveiras são muito jóvens, estão se a deixar crescer livremente para ganhar volume. Há uns dias estive a comentar isso com o australiano, algumas variedades mais vigorosas poderão vir a necessitar duas podas anuais, para evitar podas severas.

    Creio que neste momento se está a dar água em excesso ás oliveiras. No entanto, estão a fazer vários ensaios de redução. A água vem de furos, existe um que não é utilizado por ter uma condutividade superior a 7, os outros são aceitáveis, entre 1 e 2, não se fazem tratamentos á água.

    Como vês, a informação não é muita e por isso eles andam a ensaiar muita coisa, para poderem optimizar o cultivo no futuro nestas condições.

    Abraço

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  3. Olá Alberto,

    Espero que esteja a correr tudo às mil maravilhas, que pena que o lagar não está já em pleno funcionamento para poder começar já a “brincar” com ele. Estive a ler o que contava sobre as variedades e contínuo a achar incrível como ainda se continua a plantar variedades a pensarem que estão no mediterrâneo, parece que a má experiencia de outros países ainda não lhes ensinou nada!

    Fico com dúvida acerca destes investimentos…!Traga azeites para analisarmos, pode ser interessante ver se estão dentro dos parâmetros legais.

    Vá contando as suas aventuras.

    Bjs,
    Ana

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