quinta-feira, 22 de março de 2012

Deserto de Ica, Peru - 21 de Março de 2012





Após 13 horas de avião, aterrei em Lima. Chegar de noite não permite ter uma ideia do local onde estamos, apenas notei o enorme calor que se fazia sentir. O taxista mandou-me colocar a mala do computador na bagageira, porque estando á vista no carro poderia ser motivo suficiente para um assalto na via pública. A insegurança é muito grande, levando-me a pensar que apesar do crescimento deste sentimento nos ultimos tempos em Portugal, ainda temos um longo caminho a percorrer até atingirmos situações como a que se vive no Peru. O trânsito, é caótico e as regras não existem, cada um define as suas. Os sinais vermelhos ou de stop parecem querer dizer avance e ultrapassa-se pela direita ou esquerda aproveitando os espaços existentes. Ganha respeito quem buzina ou grita mais alto, é de loucos.

Pela manhã, dentro do autocarro que me levou até Paracas, verifiquei que Lima é uma cidade feia e suja, cheia de favelas, onde vive a maior parte dos seus mais de dez milhões de habitantes. A paisagem é árida e acidentada, a construção desordenada e marcada pelas consequências de sismos ocorridos no passado. Cheguei ao destino após três horas e meia, numa paragem de autocarro meio improvisada, onde me esperavam para me levar ao destino final.

Entrar pelo deserto dentro mudou absolutamente o cenário, passando de uma terra castanha e seca para areia branca e fina como a que temos na nossa costa sul. Após visualizar a exploração da empresa Oasis Olives, apercebi-me que é sem dúvida a paisagem mais impressionante que alguma vez vi no que diz respeito ao cultivo de olival. Quinhentos hectares de olival instalados sobre areia, envolvidos por enormes dunas é sem dúvida algo de singular. A paisagem enche por completo a visão e espanta por toda a sua singularidade e envolvência. Não consigo deixar de salientar a coragem necessária para avançar neste local com um projecto desta dimensão. As pessoas que o ergueram já não me são estranhas, são os australianos onde estive o ano passado.

As oliveiras estão instaladas literalmente em areia. Sendo deserto, nos ultimos cinco anos choveu apenas uma vez, o que obriga a regar o olival o ano inteiro. A pobreza do solo obriga também a que toda a nutrição da árvore seja transportada pela água do sistema de rega. As temperaturas são muito semelhantes durante os doze meses do ano, favorecendo um crescimento contínuo, não existindo o repouso invernal. Estas condições, interferem com o comportamento oliveira, nomeadamente ao nível da frutificação. Existem variedades que não se adaptam a estas condições e não frutificam. Encontram-se oliveiras com dois anos e meio, com o porte que se obtém no mediterrâneo no dobro do tempo. Apesar do crescimento aceleradíssimo, apresentam uma fraca colheita.

O lagar ainda está na fase final de montagem e instalação dos equipamentos, prevendo-se mais cerca de uma semana até que se possa fazer o arranque. Atrasos normais neste tipo de instalações, agravados pelo facto de existirem grandes dificuldades para obter bens ou serviços que nós temos ao virar da esquina. Os trabalhadores encostam-se sempre que podem, chegando a dormir no local de trabalho. Lidar com este tipo de situações é fácil para um australiano, proprietários de uma calma absolutamente irreal. Para mim é deveras penalizador e faz aquecer mais do que os trinta graus que se sentem.

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